segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Viver a Vida como Cadeirante

Rose Bassuma*


Segundo estatísticas, há 24,5 milhões de portadores de deficiências no Brasil. E quantas lutas esses milhões de portadores têm vivenciado em busca de viver alicerçados em seus direitos como cidadão.

Talvez possamos imaginar, mas não temos a idéia na prática, quão difícil é viver com uma determinada deficiência, principalmente viver numa cadeira de rodas. Especifico essa deficiência, pois quero fazer referências além da contribuição da novela da Rede Globo, escrita por Manoel Carlos, que retratou uma história de superação pessoal de uma cadeirante.
Muito louvável o tema e importante para a sociedade estar em contato com histórias e os excelentes relatos finais sobre deficiências, seja qual deficiência for, pois sofrem do estigma que lhes é produzido no decorrer de suas vidas, com o estereótipo herdado durante anos.
Todavia, Viver a Vida como cadeirante, é muito mais do que a superação psicológica e psíquica do indivíduo. Fundamental seria evidenciar a pouca infra-estrutura de acessibilidade em nosso país, como a falta de estações de metrô e trem com rampas de acesso e elevadores, o número pequeno de ônibus e táxis que são adaptados, calçadas que não são rebaixadas, dificultando a locomoção nas vias públicas, enfim, o desrespeito do não cumprimento das leis.
A novela relata uma história de uma modelo, mostrando que o mundo vem até ela, enquanto 99% precisam ir ao mundo, e encontram um mundo não adaptado às suas necessidades.
Muitos têm uma vida ativa, trabalham e estudam e, por isso, precisam transitar pelas cidades, como utilizar ônibus para ir ao fisioterapeuta, ao médico, ao supermercado, ao trabalho, à escola. Mas, será que os municípios brasileiros estão preparados para proporcionar o bem estar, criar políticas públicas que favoreçam uma vida digna a esses cidadãos?
Cadeirante tem direito ao lazer? Outro grande problema, pois muitas salas de cinema e teatro, bares e restaurantes, por exemplo, ainda não se adaptaram a esse público. A maioria dessas pessoas vive superando os limites do desrespeito público que lhe são oferecidos.
E as leis, por que não são respeitadas? Nas calçadas de Salvador, sem acessibilidade, estacionam motocicletas e carros, impedindo o acesso de quem depende desse espaço para poder circular com autonomia, segurança e tranqüilidade; a falta de acessibilidade é gritante no nosso Estado.
A vida do deficiente no Brasil não é fácil, além da superação psicológica, precisa adaptar-se, construir sua identidade e sua autonomia, buscar seus direitos de cidadão e mostrar para o mundo o que é capaz de fazer e ser.
Portanto, é preciso mostrar para a sociedade que existem leis, mas não são implementadas, cumpridas e respeitadas pelos nossos governos e a lei precisa fazer valer o direito de todo cidadão. Por que a exclusão? Manoel Carlos precisa mostrar muito mais.
*Pedagoga e Artista Plástica

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