quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ARTIGO DO DIA por Helio Fernandes

Nobel da dissidência e da liberdade. Nobel do desemprego e da coletividade. Por que o Brasil não tem Nobel? E o Nobel da Paz para um argentino?


Helio Fernandes



O prêmio que surgiu contraditoriamente de uma fortuna explosiva, servia geralmente para recompensar personagens não intimidativos, que não ameaçavam o “sistema”, e precisavam ser elogiados, lançados na voragem da comunicação, ainda não tão poderosa como hoje. Acertaram poucas vezes, erraram muitas.



Os acertos eram por conta de méritos visíveis, os erros, também visíveis, usados para preterir principalmente economistas importantes. O caso mais famoso (mas não único) foi o do economista americano John Kenneth Galbraith.



Com 25 anos, assessor de Roosevelt no primeiro mandato, a partir de 1932 (a eleição, 1933 a posse), foi o inspirador e idealizador do “New Deal”, revolução verdadeira e sem armas. Em 1941, com a guerra, Roosevelt entregou a Galbraith o que se chamou de Coordenação da Mobilização Econômica, que era a transformação de toda a indústria civil em indústria de guerra.



Ficou até a morte de Roosevelt, (no início do quarto mandato) nem quis saber de trabalhar com Truman. Em 1961, voltou à Casa Branca, convite especial de Kennedy. Já participara da campanha, ficou quase 2 anos, teve divergência com Ted Sorensen (que escrevia alguns dos discursos de Kennedy), pediu demissão, foi embora.



Surpreendido, o presidente chamou-o, tentou sua volta, Galbraith ficou irredutível (mas não hostil), Kennedy perguntou: “Posso ajudá-lo em alguma coisa?” Resposta: “Presidente, se o senhor quiser me nomear embaixador na Índia, estou indo para lá, é um dos países mais importantes do futuro, reforçará minha posição”. Foi nomeado na hora. No dia do assassinato do presidente, entregou o cargo, voltou aos EUA para o enterro, mas sem cargo. Muitas vezes lembraram dele para o Nobel, jamais tiveram coragem.



Agora, praticamente, todos os prêmios são RELEVANTES e importantes, por causa disso, até polêmicos. O Nobel dado ao dissidente da China que está preso desde o episódio fascinante da Praça da Paz Celestial, movimentou o mundo. Menos pela escolha, mais pela resistência, não do dissidente, mas da própria China.



Os dirigentes da China não perceberam (como afirmaram) que “o mundo está com inveja da China”. Podem até estar, mas sendo hoje a China a maior EXPORTADORA e a maior IMPORTADORA do mundo, todos temem a queda do PIB da China, não por ela, mais por eles.



Outro prêmio altamente satisfatório, foi o do economista dos EUA, que há muito tempo estuda a razão ou as razões do DESEMPREGO. Notável ou notáveis suas conclusões. E a repercussão foi ainda maior, porque não existe contestação para a constatação do economista Peter Diamond. Vem escrevendo sobre o assunto há dezenas de anos, só agora, aos 70, teve o reconhecimento merecido.



Mas continuam errando muito. Surpresa total o Nobel da Literatura para Vargas Llosa, despropósito total, completo e irreversível. O peruano é um escritor puramente regional, sem qualquer repercussão universal, para o homem e a sua, vá lá, obra.



O romance (?) que lastreou e premiou Lloza, é historinha sem qualquer importância. “Pantaleão e as Visitadoras”, obra menor e sem consistência, Conta, sem qualquer lance de gênio (nem o assunto permitia), o recurso dos militares do Peru para atender as necessidades sexuais (indispensáveis) de soldados e oficiais. Espalhadas pelo imenso território, as tropas ficavam isoladas, sem contato com ninguém, praticamente abandonadas.



Criaram então esse exército paralelo, de mulheres, que chamaram de Visitadoras, muito justamente para atender os homens. Só que ligaram essas “Visitadoras” ao comportamento geral dos militares.



E aí surge o absurdo do Brasil não ter nenhum Prêmio Nobel, sempre ter sido preterido. No setor mesmo da Literatura, o Brasil tem muitos escritores mais importantes do que Vargas Llosa. Jorge Amado tem pelo menos 5 ou 6 romances muito pais importantes do que o “Pantaleão”, idem, idem para Erico Veríssimo e outros.



Carlos Drumond de Andrade e Manuel Bandeira, no mesmo nível ou melhores do que Gabriela Mistral. Encurtando, podemos dizer que a maior discriminação é em relação ao Nobel da Paz. Obama ganhou esse Nobel, presidente de um país com duas guerras por interesses. Pode ser que veja a merecer, mas nos primeiros tempos de governo, quando manda mais tropas para REFORÇAR essas guerras?



Outro Nobel que atingiu profundamente o Brasil, foi a premiação do argentino Perez Esquivel como Nobel da Paz. O que fez ele? Por que recebeu esse Nobel?



(Conheci Esquivel em Cuba, 1987, já Nobel, ninguém o conhecia, não me deixou a menor impressão. Nesse Seminário sobre Dívida Externa, fui apresentado a ele, quase não disseram o nome, só o título, que ganhou surpreendente e imerecidamente).



Naquela época, o Prêmio Nobel da Paz natural e universal, teria que ir para Dom Evaristo Arns. Um dos grandes resistentes da ditadura era ele. Teoricamente podia ser o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Perseguidíssimo, mas na prática era Dom Evaristo.



E sua capacidade de luta e de comando chegou ao apogeu na organização da MISSA DE SÉTIMO DIA PELA ALMA DO ASSASSINADO WLADIMIRI HERZOG. Os militares não queriam de maneira alguma essa MISSA. Dom Evaristo Arns, a família, a resistência verdadeira, os que não transigiam nem concediam nada aos ditadores de plantão, “fecharam a questão”, tem que haver a missa. Sentindo-se derrotados, veio a “sugestão-intimidação”, que era a seguinte: “Concordamos com a missa, mas não na CATEDRAL, e sim numa igreja mais distante, não no centro da capital”.



Como não houve acordo nem poderia haver mesmo, a missa foi na CATEDRAL. Multidões de todos os lados, tropas nos mais variados lugares. Onde houvesse um “vão ou uma janela, metralhadoras eram visíveis”. O centro de São Paulo se transformou igualmente num templo de resistência e num quartel a céu aberto.



A semana que Dom Evaristo Arns “travou” com os militares, homérica. Intransigentes, os “plantonistas da ditadura” jamais imaginaram que homens desarmados, de terno, batina ou roupa de trabalhador, pudessem ter tanta força na mente, na alma, no coração, a transformar tudo em resistência.



Dom Evaristo, o centro de tudo aquilo, devia ter recebido o Nobel da Paz. Tudo o que ele fez no tempo e na semana da missa, era luta pela Paz. Por ser o Brasil, não tivemos esse Nobel, já não havíamos recebido os outros.



***



PS – Vargas Llosa, reacionaríssimo, foi candidato a presidente da República, lançado pelos militares, apoiado e financiado pelos banqueiros. Como os trabalhadores estavam em greve, a luta foi contra eles.



PS2 – Derrotadíssimo, Llosa tentou se redimir, afirmando: “Nunca mais serei candidato”. Se fosse, seria novamente massacrado.



Conversa com leitor, sobre transferência de votos e sobre a religiosidade de Serra e Dilma.

Luiz Ferreira:

“Helio, você que acompanha os fatos há muito tempo, considera que essa disputa Dilma-Serra pode ser comparada, em matéria de votos, ao que o Brizola fez para Lula em 1989. E houve alguma outra sucessão presidencial com transferência de votos vencedora?”



Comentário de Helio Fernandes:

Luiz, o Brasil teve poucas sucessões verdadeiras, muitas ditaduras, explícitas ou implícitas. Temos 121 anos de República. Vejamos as sucessões:



1 – 41 anos de 1889 a 1930, os presidentes escolhiam seus sucessores, comunicavam e passavam o cargo. (Nenhum presidente foi derrotado).



2 – 15 anos de 1930 a 1945, sem sucessão. Vargas teve três denominações. Chefe do Governo Provisório, presidente indireto, ditador.



3 – Em 2 de dezembro de 1945, não houve praticamente sucessão, e sim “prorrogação da guarda”. O marechal Dutra, tido e havido como o Condestável do “Estado Novo”, foi o sucessor.



Além do mais, a legislação era diferente. Qualquer cidadão poderia se candidatar a senador e ao mesmo tempo a deputado, por 7 estados. Vargas e Prestes se elegeram, tiveram que optar, ficaram com o mandato de senador.



Aqui no Rio, Distrito Federal, Prestes e Vargas se elegeram senadores e deputados, optaram pelo mandato maior. Renunciaram aos cargos de deputados, como os votos ficavam para os partidos, surgiram o que se chamou de “bancada de 400 votos”.



4 – Assim, foi eleito presidente o marechal Dutra, que não tinha a menor representação ou representatividade, Por causa da Segunda Guerra Mundial, o Brasil acumulou saldos enormes no exterior. Todos compravam no Brasil, “deixavam para pagar depois”.



O marechal Dutra, pessoalmente honesto, mas presidencialmente nefasto, desperdiçou esses créditos. Os norte-americanos, acostumados a comprar ouro pagando preço de matéria plástica e a vender matéria plástica recebendo preço de ouro, ficaram com tudo. Foram mais 5 anos perdidos.



5 – 3 de outubro de 1950, a volta de Vargas, pela primeira vez eleito. Mas não governou, não sabia, a não ser dominando tudo. As crises que vinham das discordâncias de 30/45, explodiram em 1954, levando à decisão genial e inédita, do suicídio e da Carta-Testamento.



6 – A primeira sucessão autêntica ocorreu em 1955, com Juscelino. Enfrentou o candidato do Poder, militar que vinha desde 1930, o general Juarez Távora, que era considerado o “Vice-Rei do Nordeste”. Mas perdeu. (Até mesmo lá).



7 – Estávamos então com 66 anos de República, era o primeiro presidente que não vinha de 1930, mas parcialmente participara da ditadura, como prefeito nomeado de Belo Horizonte. Foi também o primeiro presidente DIRETO nesses 66 anos, que terminava o mandato. Tentaram seduzi-lo com a REEELEIÇÃO, não aceitou, passou o cargo a Jânio Quadros, lançou a candidatura a novo mandato em 1965.



8 – Jânio Quadros, o “trêfego peralta”, desperdiçou 7 meses, queria mais, não conseguiu, tumultuou tudo, assumiu o vice João Goulart, “plantaram” o golpe de 1964, Portanto, de 1961 a 1985, mais 24 anos roubados do povo, das eleições diretas, das sucessões.



9 – Na verdade, a História brasileira esteve para mudar fundamentalmente em 1989. Se Brizola tivesse ido para o segundo turno, teria sido eleito. Não aceitou as ponderações para visitar mais São Paulo, perdeu para Lula por meio ponto, ficou furioso, chamou-o publicamente de “sapo barbudo”, viajou para o Uruguai, Voltou, não tinha saída, apoiou Lula, mas não transferiu votos, se tivesse transferido, Lula teria ganho. Só iria ganhar em 2002, na quarta tentativa.



***



PS – Como você está vendo, Luiz, é a primeira sucessão verdadeira, mas sem nenhuma verdade reconhecida nas urnas. Pelo menos, não no primeiro turno.



PS2 – Já houve (sem que isso seja uma aprovação, nem cabe ao repórter aprovar e sim registrar) uma transferência colossal de Lula para a candidata-poste que ele mesmo escolheu.



PS3 – Lula já disse publicamente que “houve descuido e salto alto, no primeiro turno”. Prova de que acredita na vitória agora.



PS4 – Como não votei e não votarei em nenhum dos dois, posso dizer: “Como é que Serra pretende VENCER, defendendo as DOAÇÕES-PRIVATIZAÇÕES, com prejuízos calculados entre 10 E 17 TRILHÕES?



PS5 – Reforçando a campanha, mostrando uma foto da primeira comunhão? Como Serra está com 68 anos, a primeira comunhão, a convicção e a foto, inteiramente D-E-S-B-O-T-A-D-A-S.



PS7 – Com Dilma ou Serra, é quase certo que voltaremos a Pedro Álvares Cabral. Como os dois são muito religiosos e vivem em igrejas, podem pedir a Deus, que pelo menos nos aproxime de Vasco da Gama e do caminho das Índias.



PS8 – Ainda mais agora que o Brasil faz parte do “BRIC”, que tem os dois, e mais a Rússia e a China.





VARIADAS, com o tricampeonato mundial do vôlei, e com o tri do futebol, que também poderíamos ter obtido, em 1966

Helio Fernandes



O vôlei conseguiu o que o futebol sempre perseguiu: o tricampeonato seguido. Quase obtivemos em 1966, na Inglaterra, faltou competência aos dirigentes. XXXX Campeões do mundo em 1958 e 1962, poderíamos juntar o que até aqui ninguém juntou, três títulos seguidos. Acreditavam na seleção que ganhara os dois primeiros títulos, mantiveram praticamente a mesma. XXXX Não dava, isso era tão visível, que além de não vencermos, pela primeira vez nem passamos da chave inicial, ficamos pelo caminho. XXXX Perdemos tendo como adversários Portugal, Hungria (já destroçada, longe da Hungria de 1954) e Bulgária. XXXX A Itália juntou o título de 1934 e 38, quem sabe como era a disputa, quais os adversários? XXXX Arnaldo César Coelho poderia explicar a razão do árbitro, em 1934, no jogo Brasil-Itália, ter marcado um pênalti contra o zagueiro brasileiro, Domingos da Guia. XXXX O “divino mestre”, como foi sempre conhecido, estava fora do campo quando foi punido pelo árbitro, com o que se chamava na época de “penalidade máxima”. XXXX Hoje qualquer um perder pênalti, como anteontem o Loco Abreu, que jogou longe um gol que representaria mais 2 pontos para o Botafogo. XXXX De qualquer maneira, com o futebol que estão jogando (inclusive o Brasil), ninguém mais será tri de verdade.


Um mistério mais tenebroso do que o cofre do Adhemar de Barros: quem levou os R$ 4 milhões roubados da campanha de Serra?

O internauta Arthur Vilella enviou terça-feira o seguinte apelo à Tribuna da Imprensa: “Hélio, mil desculpas por estar usando seu espaço, mas meu ajuste aqui é com o Carlos Newton, que deu para criticar a Dilma por ela ter denunciado o negócio do sumiço do R$ 4 milhões da campanha do Serra.

O Newton escreveu uma diabrite qualquer e sumiu, chame ele aí: é que a questão esquentou e o Carlos Newton tem que se explicar, especialmente quanto ao Sr Paulo Vieira de Souza, vulgo Paulo Preto.

Diga aí Carlos, você que é achegado ao Serra, o abortista, ele conhecia ou não conhecia o engenheiro do DERSA?

O Serra foi ou não inteirado dos seus negócios que o Paulo Preto dizia que fazia para ele? Quanto mais ele arrecadou das empresas, já que ele afirma que conseguiu doações para a campanha muito mais do que R$ 4 milhões – isso é irrisório perto do que eles doaram.

O quê o Serra esconde? Para onde foram os R$ 4 milhões que os tucanos dizem que o Paulo Preto surrupiou da campanha? Por que o Serra não fez um BO (Boletim de Ocorrência), se ele foi diretamente roubado? De que ele tem medo?

Para seu governo, matéria na Folha. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, saiu nesta terça-feira em defesa do ex-diretor de engenharia da Dersa (estatal paulista responsável por obras viárias) Paulo Vieira de Souza.

Conhecido como Paulo Preto ele foi citado pela candidata Dilma Rousseff (PT) no último domingo, durante debate na Band. Dilma afirmou que ele desviou R$ 4 milhões originalmente destinados para a campanha de Serra”.



Resposta de Carlos Newton:

Certas coisas só acontecem comigo. Fiz uma matéria contra o Serra, muito pesada, a respeito de precatórios milionários (a chamada do artigo está aí no alto, do lado direito da tela), recebi um monte de críticas de internautas tucanos.



Fiquei com problemas de consciência. Para equilibrar o jogo, fiz então uma matéria contra a Dilma, e o mundo desabou. Recebi tantos comentários negativos, que estou deprimido. Espero que o fracasso não me suba à cabeça.



O pior mesmo é essa crítica do Arthur Vilella. Ele pede que eu “me explique” a respeito dos R$ 4 milhões que teriam sumido dos fundos da campanha de Serra. E me faz uma série de perguntas sobre esse dinheiro, quantia mais do que respeitável, além de exigir que eu responda sobre o envolvimento de Serra no nebuloso assunto.



Bem, Vilella, me desculpe, mas juro por Deus (os dois candidatos viraram religiosos de repente, também estou nessa) que o dinheiro não está comigo. Nem sabia do assunto. Nessa parte do debate da Band, acho que cochilei ou não prestei atenção. Nem vi se a Dilma chamou o engenheiro de Paulo Vieira de Souza ou Paulo Preto. Pessoalmente, prefiro chamá-lo pelo nome. É politicamente correto, e a gente não se arrisca a responder pela Lei Afonso Arinos, perdão, Lei Caó. O certo seria Paulo Afrodescendente.



Mas insisto, Vilella. Não tive nada a ver com isso. E vou logo adiantando que também não sei nada sobre o tal roubo do cofre da amante de Adhemar de Barros. Se lhe disserem alguma coisa a respeito, é mentira, posso afiançar. Só sei o que o deputado do PT e ex-ministro Carlos Minc diz. Que Dilma não participou, mas “tirava uma onda” de que tinha participado. É só isso que sei.



A propósito de contribuições de campanha, outro dia o pessoal do site “Dilma 13” mandou um e-mail pedindo que eu colaborasse com no mínimo 13 reais (o cara do site parece com o Zagallo, tem mania de 13). Infelizmente, não pude contribuir, por falta de numerário.



Mas prometo que, se esses 4 milhões forem depositados na minha conta (aceito também dólares, libras, ienes ou euros), imediatamente contribuirei para a campanha da preferida do presidente Lula. Se sobrar algum, mando também para o Serra. Juro por Deus (não sei por que, nesse segundo turno me bateu uma religiosidade irresistível).

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